NOSRAT RAHMÂNI
( IRÃ )
Nascido em 1929 e falecido em 2000, Rahmâni viveu uma época de grandes eventos sociopolíticos e nacionais globais. Sua obra, portanto, não é alheia ao fator social, inclusive buscando abordar a pobreza mundial em escala global.
POESIA SEMPRE –No. 32 – Ano 16 – 2009. Poesia contemporânea do Irã. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2009. Editor: Marco Lucchesi. Capa: Rita Soliéri Brandti. ISSN 9770104062006.
Ex. biblioteca de Antonio Miranda.
Flor de ópio
No aroma quente do raio de sol das planícies do Oriente,
Lá onde o trigo cresce para o homem,
Esse grão dourado do ser,
Força de vida para a humana vida,
Lá, conta-se,
Cresce também o veneno em flor,
A papoula.
Faz-se eterno escravo seu todo aquele que a cheira
Uma só vez, e do ser se enfastia.
Remédio para todo sofrimento,
Remédio para a morte,
Remédio para a vida,
também é sofrimento sem remédio.
Ambas as plantas sacrificam-se para que os homens tenham o
Bem e o Mal.
Uma é um dom de Deus,
A outra, um presente de Satã.
No aroma quente do raio de sol das planícies no Oriente,
Lá, onde cresce a flor do sentir dos versos,
Pois eles, os poetas, sacrificam-se
Para que o homem
Posa lavar da dor a mácula de suas roupas,
Como o grão de trigo,
Sacrificam-se para que os homens sejam livres,
Para que a roda da vida continue a girar,
Para que a humanidade orgulhosa não acenda
A ira de Deus.
A partir daqueles dias, daquelas noites, daqueles tempos,
Passam coisas após coisas e vão-se dias após dias
Até que nasça o nosso dia.
Nenhum outro caminho conduz da escuridão tirânica,
Daquela colheita cega,
À fonte do sol.
Do alimento das espigas
Não restou mais do que palhas.
Nas planícies do vento.
Peste ao invés de raios derramou o sol;
E o próprio Satã colheu a papoula das mãos de Deus.
Não é culpa nossa.
Nenhum caminho conduz à fonte do sol.
E todo camponês que um dia plantou bem sabe
Que não resta refúgio
Senão dormir e esquecer e calar.
Tradução de JULIANA P. PEREZ
Blasfêmia
Dizei, ó Deus, se alguma vez beijastes
Lábios carmins de uma mulher em êxtase?
Dizei-me, já tremestes de desejo
E as flores de seu corpo já trocastes?
Dizei-me, ó Deus, alguma vez tremestes
À vista do altar de olhos desejosos?
E já sentistes o pulsar do sangue
No escuro abismo de seios como estes?
Ó Deus, dizei-me, fostes já forçado
A seguir esquifes negros, a olhar
Sangue nos próprios olhos embotados
Em vez de ver a luz dos olhos seus?
Ah, se tivésseis amado um só dia,
E o coração perdido, como o meu.
Vossa escolha em outro Deus recairia,
Deus sem Deus, que outro Deus adoraria.
Tradução de JULIANA P. PEREZ
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Página publicada em junho de 2025.
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